01/08/2003

Pensar

É complicado, às vezes, escrever o que se quer. A maior parte do que escrevo começa por ser “isto” e acaba “aquilo” sem eu fazer ideia de como tal aconteceu. A forma como penso assemelha-se muitas vezes ao fumo dos meus cigarros... Dá-se a primeira passa no primeiro cigarro do dia: é uma nova ideia cheia de vigor, um pensamento prenhe de potencial. Depois expele-se o fumo. Outra passa e aquela ideia, aquele pensamento já passaram, esvairam-se no ar e nunca mais consigo reencontrá-los da mesma forma, com a mesma alegria, porque já não são novos, apenas a lembrança do que já tinha sido. Os outros cigarros já são só a continuação do primeiro, nunca sabem ao mesmo.
Há uns anos atrás, gabava sem modéstia a minha memória. A vida corria devagar e o registo dos dados era feito de forma regular e certinha. Agora não. A minha mãe costumava perguntar “Pensas que a minha cabeça chega a todo o lado?”, sempre em tom acusatório e cansado e eu não compreendia. Já perdi a conta às vezes em que o pensei. Os últimos dois anos esgotaram-me. Foi informação a mais, foram problemas de mais para assimilar e ultrapassar tudo sem mazelas. E agora sinto-me no limite e não sei que fazer.
E o pior é que a culpa não é de ninguém e é de todos. É a minha responsabilidade, à qual nunca fujo, que desta vez não consigo delimitar. São as minhas acções e omissões que já não sei escolher com a calma e ponderação que me são indispensáveis para não me arrepender de nada depois. É o cansaço dos primeiros, segundos e ultimos passos de tudo que tenho sempre que dar. E é sentir-me de pés atados sempre que quero andar.
Talvez seja por isso que procuro sapatos para mim há mais de dois meses e não encontro nenhuns que me agradem.