01/08/2003

À espera

Isto há dias que correm bem como tudo. Não bastava estar à espera que o Artur me venha buscar, como ainda estou a ouvir confissões da vida de um colega que dava o ordenado de um mês para não ouvir. Com pormenores íntimos! Para além disso, dói-me a cabeça. E ela mentia-lhe, vejam lá só, sobre a idade que tinha!
Há muita gente que mente, é verdade, mas temos tendência a não o comentar com ninguém, principalmente quando quem nos mente é alguém de quem gostamos muito. Por mais inofensiva que a mentira seja, quando a apanhamos sentimo-nos magoados, e não conseguimos evitar pensar que o gostar muito tem apenas um sentido. É uma gaita, porque vamos amargando e deixando de sentir a antiga cumplicidade do sem segredo e sem rodeios. E começamos a pensar se devemos abrir-nos tanto com essa pessoa como faziamos. E ficamos com todos os sentidos apurados à espera da próxima, e isso, isso é o pior. É o ouvir tudo com muita atenção, o registar tudo o que é dito, o comparar as palavras de hoje com as de ontem, o que diz agora com o que disse há meia hora, o procurar contradições na mesma frase...
Depois começa-se a preferir o silêncio, que quando estamos calados não corremos o risco de ouvir ou dizer o que não se quer, e nesse silêncio fica a ânsia de que tudo volte a ser como era, de que o medo de nos termos partilhado em vão nos abandone.
Bom fim de semana.