03/12/2003

Dezembro

Sendo filha de pais separados, o Natal foi época que nunca me agradou. Eles separaram-se quando eu tinha apenas um mês de vida. Eu, desde que me lembro, que entrava numa espécie de letargia na época natalícia, tipo urso hibernado, que só passava depois do dia de reis. Quando o Pedro nasceu, o seu primeiro Natal foi passado em casa dos meus avós, em condições de ansiedade para quase toda a familia. Desde o dia 8 de Dezembro que ele estava internado no Hospital Garcia da Orta, por recusa alimentar, e tinha tido apenas autorização para sair naquela noite, a menos que voltasse a beber leite do seu biberão. O PEdro dormiu toda a noite de Natal. Quando acordou, às 6 horas, fiz a primeira tentativa de o alimentar. Não resultou. Fomos para casa da minha irmã, às 8 horas fiz a segunda tentativa, e o Pedro continuou a recusar alimentar-se. Telefonei ao pai dele e pedi-lhe para nos vir por a casa. Às 10h15m, em minha casa, sentei o Pedro na Maxi-Cosi, frente à televisão pequena que tinha no quarto na altura, fui preparar-lhe o leite e sentei-me no chão ao seu lado. Terceira e ultima tentativa. Se não comesse, lá iamos de novo para o Garcia da Orta. E o Pedro, a ver o Garfield, bebeu 60ml de leite. Telefonei para a médica dele no hospital, que me instruiu para voltar a insistir uma hora depois. O Pedro voltou a beber 60 ml. Foi o dia de Natal mais feliz da minha vida, aquele em que o meu filho voltava a comer e em que o meu almoço foi uma lata de Chili com carne.
Agora já não me sinto letárgica nesta época. Continua a não me agradar o espirito comercial da época, continua a chatear-me o desvirtuar daquilo que se pretende comemorar, mas, como não acredito em Deus, também eu ajudo a criar aquilo que me desagrada. Porque o que me faz feliz é ver o meu filho feliz, e esta é a sua época de maravilha e delicia e eu, como se faz àqueles que amamos, partilho tudo isto com ele.