07/01/2004

Bolinha vermelha no canto superior direito

Eventualmente não conseguirei acabar este post sem utilizar palavreado pouco próprio (como a Espectacológica, sempre que passa a ferro faz ;) ), mas a história que aqui registarei para memória futura não se compadece com outra coisa.
Começo por vos contar o conteúdo da carta que o Arturito escreveu este ano ao Pai Natal. Depois de expressar o seu desejo de que ele se encontrasse bem de saúde, dizia assim (vou poupar-vos aos erros ortográficos):
"Este Natal, aquilo que eu quero é:
1.º Muitas felicidades e muitos brinquedos para os pobrezinhos
2.º Um pião telecomandado
3.º Uma trotinete a gasolina"
Não foi esta a primeira vez que ele demonstrou a sua generosidade e o bom fundo que tem.
No dia de Natal, tal como regulado judicialmente, eu e o Artur fomos buscar o miudo a casa da mãe. Daí passámos por casa da minha mãe, que queria dar um beijo ao menino, e que lhe deu € 20,00, prenda do avô. Eu guardei o dinheiro, apesar dos protestos do miudo, depois de o pai ter dito que era melhor que eu o fizesse, para depois pôr no mealheiro dele.
Chegados a nossa casa, comecei em busca do mealheiro para guardar o dinheiro, enquanto o Artur tomava banho. Corri a casa de ponta a ponta e nada de mealheiro. Perguntei ao pai, que não sabia do dito também. Fomos ambos perguntar ao miudo onde teria ele guardado o mealheiro. Resposta, de cabeça baixa: "Levei-o para casa da mãe. Ela anda sempre a dizer que não tem dinheiro e eu levei para a ajudar". Conhecendo a generosidade do miudo, tivémos de ter tacto na conversa, demonstrar que não estávamos zangados com ele, mas lá perguntámos como tinham aberto o mealheiro (com uma tesoura - o mealheiro era de lata, tinha um fecho eclair com cadeado para fechar) e em que tinha sido gasto o dinheiro. "Então, fomos ao cinema, ao bowling, comprámos um jogo para a Playstation e assim". E sabes quanto dinheiro estava lá?, perguntámos nós ainda estupefactos. "Era € 128,99".
A minha cabeça gritava "cabra de merda", "filha da puta", e outros epítetos equivalentes. Explicámos ao menino que a mãe tinha de lhe devolver o dinheiro porque era dele. Fomos os dois para o quarto. O Artur abriu a boca e disse "Puta de merda, até o filho ela chula." Eu dirigi-me para o telefone umas dez vezes, mas consegui conter o impulso de telefonar à besta e deixar sair tudo o que tinha para lhe dizer.
Como é que se explica a uma criança de oito anos que quem não tem dinheiro para comida não compra um BMW novo? Como é que se lhe explica que não pode ter pena da própria mãe? Eu já não sei...