Morreu o Zé Lopes
Mais um enfarte do miocárdio, inesperado, fulminante e fatal. Em seis meses é a terceira morte de gente de quem gostava. Só que este era especial. Não era da minha familia, mas o meu filho era neto dele, e até houve quem pensasse que eu era a sua filha mais velha. O quanto eu gostava dele até a mim me custa a acreditar. Que a morte dele me esteja a doer mais que a do meu próprio tio é complicado de entender. O amor nascido do respeito, da compreensão, da entreajuda e da convivência é talvez mais forte do que aquele que se sente pela força do sangue. Porque ao Zé Lopes eu escolhi amar. Porque o Zé Lopes amava o meu filho como poucas pessoas o amam. Hoje vim trabalhar como se estivesse a flutuar, com o corpo dorido e a cabeça vazia. Queria poder ir a casa dele mais logo e falarmos sobre isto à volta de um prato de caracóis ou de ameijoas, que ele fazia como ninguém. Mas não posso. Resta-me a alegria de lhe ter dado um neto que o fez feliz, e procurar forças para ajudar a mulher e a filha dele, que era com toda a certeza o que ele de mim esperaria por saber que nem outra opção eu ponderaria.
Estas coisas parecem-nos sempre tão injustas...
Estas coisas parecem-nos sempre tão injustas...
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