04/09/2003

Ausências

Se alguém de quem gostamos não nos atende o telefone por dias a fio, se alguém de quem gostamos não está na sua casa, a malta preocupa-se. Digo eu.
À semelhança dos EUA, nós lá em casa também tivémos um 11 de Setembro. Foi no ano a seguir, e nunca tivémos dúvidas que os actos eram terroristas: quando somos apanhados às 7:20 a.m. à porta do nosso prédio e nos batem e nos levam uma das nossas crianças, não queremos saber se quem o faz é a mãe da criança levada, sabemos apenas que o fizeram e que há uma criança em perigo. Foi por essa altura que AP, a mãe do Artur, decidiu assentar arraiais na casa do amante e respectiva esposa, com filho atrelado, proibir todo e qualquer contacto do pai com o menino e levar a vida como se não devesse explicações a ninguém. Excepto ao próprio filho, a quem encheu a alma de explicações dolorosas, apesar de nenhuma das mesmas se parecer com a realidade dos factos.
Desde segunda-feira que não há movimento na casa de Mem Martins. Tal como em Setembro do ano passado. Desde sexta que nada sabemos do menino. Nem mãe nem filho atendem o telefone. Em casa não estão. E eu, que esperava seriamente que este ano lectivo fosse de sossego e calma para o miudo, antevejo a improbabilidade de tal acontecer.
A AP é especialista em transformar a esperança num peru: em vez de ser a ultima a morrer, ela mata-a de véspera. Pelo menos a minha, por mais que gostasse que assim não fosse.