10/09/2003

Inimagináveis pequenas alegrias

O Pedro, como já referi, nasceu com alguns defeitos de fabrico. Depois de recauchutado por quatro vezes, ficou um puto fino. O pior é que mastigar era para o vizinho. Tive quatro varinhas-mágicas em outros tantos anos, três das quais "morreram" ao fim de pouco mais ou menos que um mês dos trabalhos forçados que alimentar o meu filho implicava. A outra, que a mim não pagam a publicidade, mas que eu a faço ao que é bom, foi a extraordinariamente fiel Braun 350w, que ainda hoje está connosco e que nunca se negou a passar as piores mistelas - desafio-vos a encontrar mistura pior que Happy Meal com sopa de espinafres!
Deve ter sido esta ultima iguaria que fez despoletar no Pedro a vontade de ser como todos os outros e utilizar os molares. Coisa que aconteceu apenas em Fevereiro deste ano, aos quatro anos e meio de idade, e num processo muito lento de habituação aos sólidos, aos sabores, às texturas...
Não espanta a quem isto saiba, que a minha irmã me tenha agora telefonado, voz mista de espanto e felicidade, para me informar que o meu filho se deliciava frente a um prato de "jaquinzinhos" fritos com arroz de tomate, depois de ter recusado o peixinho arranjado que ela lhe preparara, e tendo exigido comer os ditos à mão, em dentadas próprias, e incluindo a cabeça dos pobres animais...
"Ó mana, já comeu mais de dez, e pena tenho eu que se estejam a acabar!"
Tal mãe, tal filho: peixe frito com arroz de tomate!... E eu que, sem fome, comi um caldo verde e uma sandes de queijo fresco, sem vontade e sem gosto, enquanto tentei por a conversa em dia com a Maria Papoila (lindo o tapete para rato que me trouxe da Escócia, quanto ao haggis, a ver vamos! :-*) e me esforcei por resumir seis anos de prática de Registos e Notariado em dez minutos para o Artur poder trabalhar afincada e correctamente para aquelas senhoras que não pagam a tempo...