30/01/2004

A vida daqui por uns anos

Não resisti a transcrever o conteudo de um e-mail que recebi hoje...
Telefonista : "Pizza Hot, Bom dia."
Cliente : "Bom dia, quero encomendar uma pizza sff"
Telefonista: " Pode me dar o seu NIDN,sff ?"
Cliente : " Com certeza, o meu numero de identificação nacional, é 6102049998-45-54610."
Telefonista : "Muito obrigado Sr. Jaquim. A sua morada e Rua do Meio a Lapa, No 17, e o seu numero de telefone de casa e o 213962366, o seu numero do trabalho na Construções Abrantes, Lda e o 217952302 e o numero do seu portátil e 962662566. De que numero e que o Sr. ligou ?"
Cliente : "Euh ? Estou em casa. Onde foi buscar essas informações todas?"
Telefonista : "Nós estamos ligados em rede ao Sistema."
Cliente : (Suspiro) "Ai sim ! Eu queria encomendar duas pizzas com queijo extra e camarão..."
Telefonista: "É capaz de não ser boa ideia."
Cliente : "Desculpe ?"
Telefonista : "Consta na sua ficha médica que sofre de hipertensão e de um nivel muito alto de colesterol, alem disso o seu seguro de vida desaconselha vivamente escolhas perigosas para a sua saude."
Cliente : "Pois é... tem razao! O que é que me propõe ?"
Telefonista: "Porque não experimenta a nossa pizza Light com iogurte de
soja, tenho a certeza que vai adorar."
Cliente : "Como é que sabe que vou adorar!!!?
Telefonista: "O Sr. consultou o site na biblioteca municipal, no dia 15/01 as 14h32, onde permaneceu ligado à rede durante 36 minutos; dai a minha sugestão."
Cliente : "Pronto, está bem!. Dê-me duas pizzas familiares, quanto é?"
Telefonista: "É a escolha certa para si, sua esposa e seus 4 filhos. São EUR 49,99."
Cliente : "Quer o meu numero de cartão de crédito?"
Telefonista : "Lamento mas vai ter que pagar em dinheiro. O limite do seu cartão de crédito já foi ultrapassado"
Cliente : "Não faz mal, eu vou ao multibanco levantar dinheiro antes que chegue a pizza."
Telefonista : "Duvido que consiga. Tem a conta a descoberto."
Cliente : "Meta-se na sua vida. Mande-me as pizzas que eu arranjo o dinheiro. Quando é que entregam ?"
Telefonista : "Estamos um pouco atrasados. Daqui a 45 minutos serão entregues. Se estiver com muita pressa pode vir buscá-las, só que transportar duas pizzas de moto não é aconselhável, alem de ser perigoso"
Cliente : "Mas que raio de história é esta, como é que sabe que tenho uma moto?"
Telefonista : "Peco desculpa, apenas reparei que não tinha pago as prestações do carro e que ele foi penhorado. Mas a sua Harley está paga. Dai, pensei que fosse utilizá-la"
Cliente : "@#%/$@&?#!"
Telefonista : "Agradeço que não me insulte... não se esqueça que já foi condenado em Julho de 2009 por Insulto a Agente na Via Publica"
Cliente : (Silencio)
Telefonista : "Mais alguma coisa! ?"
Cliente : "Não, é tudo...não, espere..não se esqueça dos 2 litros de Coca-Cola que constam na promoção ."
Telefonista : "Peço imensa desculpa, mas o regulamento da nossa promoção descrito no art.3/12 proibe-nos de fornecer bebidas com açucar a pessoas diabéticas."

Mais uma voltinha, mais uma viagem...

Nova consula de pedopsiquiatria de Pedro. "Vai ter de mo trazer cá de 15 em 15 dias, que ele está muito agitado e rejeita regras". Nada que eu não oiça todos os dias a educadora dele dizer nos ultimos tempos.
Hoje pode ser um dia para festejar no futuro: reunião entre o Artur e advogada com o advogado da outra parte relativamente ao divórcio. Entretando chegou o fim de semana (que eu agora trabalho só dia sim, dia não e hoje é um dia não eheheh), logo vou ao teatro, graças aos convites da minha prima, que é actriz na peça em questão, e amanhã vou dormir até mais não poder.
Tenho a agradecer ao "househusband" ter tratado das limpezas e compras. Esta é a parte do desemprego que para mim tem vantagens ;o)

29/01/2004

Chove

Para todos aqueles que sofrem de stress pelo estado do tempo, vão aqui e divirtam-se... (Post reformulado no dia seguinte).

28/01/2004

Finalmente!

Após 4 dias de burocracia e de "empurrões" de uma instituição pública para outra, lá conseguiu o Artur tratar de tudo. Agora é sentarmo-nos e esperarmos pelo subsídio de desemprego e continuar a mandar CV's para todo o lado e mais algum, que a conjuntura há-de passar.
Ao menos, que volte a estabilidade lá a casa, mesmo com uma capacidade económica diminuida e de cêntimo contado a cada gasto que se faz. Haja saúde de novo, que o resto logo passa.

27/01/2004

Senha 286

Às 11h41m foi esta a senha que o Artur tirou, para ser atendido na Loja do Cidadão pela Segurança Social. Às 15h44m ainda faltavam 40 números para lá chegar. Viva a burocracia e a administração pública! ARGH. Claro que isto sucede depois de o carro dele não pegar, depois de ele me ter acompanhado ao médico de manhã para ter boleia para Lisboa... Felizmente que foi aprovada a minha solução de emergência para facilitar a vida económica do agregado até o Artur voltar a arranjar emprego. No fim das contas, nem tudo foi mau hoje.
O Arturito afinal tinha amigdalite, que estava a inflamar o apêndice. Nada que uma boa injecção de penicilina administrada por um enfermeiro depois de 5 horas, quatro médicos e cinco exames, não resolvesse. Foi uma rica tarde de sábado.
Nada mais por hoje. Não tenho grande tempo para aqui mencionar a discussão de ontem ao jantar, sobre como apareceu a Terra e quem são os pais de Deus ou como é que de uma explosão chamada Big Bang pode passar a existir alguma coisa.

26/01/2004

O sorriso de Fehér

"Olha, o Fehér está a jogar!", disse o Artur quando mudámos de canal para a Sport Tv, para ver os ultimos minutos do jogo. E lá me lembrei eu novamente do João, meu primeiro namorado, que ontem fazia anos. O empate mantinha-se. Dissémos piadas sobre natação com bola, sobre a "a bola não sabe nadar iô!", depois veio o golo "YES!", a reposição de bola, a entrada no período de descontos, a saída da bola pela linha lateral, o Fehér que se aproxima do jogador do Guimarães e lhe atira a bola das mãos, o Olegário de cartão amarelo em punho, que o Fehér, com o sorriso do João, aceita com fair-play, e que depois se vira, se dobra e cai desamparado, o auxílio imediato do Sokota, o choro convulsivo do Tiago, do Miguel e do Anderssen, a equipa médica a fazer massagem cardíaca e eu de olhos no ecrã a não acreditar que aquilo estava a acontecer... Miki Fehér sai de campo de ambulância, a Sport Tv vai para publicidade, mudo para a RTP 1 e oiço Domingos Gomes dizer que está optimista em virtude da idade do jogador e das resistências provocadas pela prática do desporto. Ligo o rádio para ir ouvindo testemunhos de gente que dizia muita coisa que não servia para nada. Vou mudando compulsivamente de canal, a tentar ver quem sabe primeiro o que se passa na realidade. É na RTP 1 que primeiro oiço a Cecília Carmo dizer que Fehér morreu. Com 24 anos. De um problema cardíaco em que a reanimação foi tentada sem sucesso. Tinha só 24 anos. Parecia o João, jogava no meu Benfica e morreu, assim, sem mais nem menos, em período de compensação, no berço de Portugal e longe da sua Hungria, com um sorriso à laia de quem se despede num "até já".
And nothing else matters. Um sorriso para ti também, Fehér.

23/01/2004

Bom fim-de-semana

Que pouco mais me apetece dizer. O miudo não sei se está melhor ou pior, amanhã se verá. Vocês, descansem e divirtam-se, que bem merecem.

22/01/2004

Último dia

É hoje que o Artur sai definitivamente da empresa. Penso nisto enquanto a Cláudia Capela me informa do estado do trânsito em Lisboa e Porto por uma orelha e pela outra entra Lenny Kravitz. Tocou agora o telefone: o professor do Arturito telefonou agora para o Artur a dizer que o miudo está com dores de garganta e de barriga e que está muito prostrado. Veio da visita à mãe, claro, que não se deve ter apercebido ou ralado com o estado de saúde do miudo. Já telefonei à minha mãe, que vai buscar o miudo à escola, porque o Artur tem de ir mesmo ao trabalho para as patroas lhe assinarem os impressos necessários a requerer o subsidio de desemprego. Tudo isto significa que, caso o Arturito esteja mesmo em muito mau estado, irei eu para casa. E vou com muito gosto, que o trabalho que chegou hoje bem poderá marinar até amanhã (eheheh) e eu sempre tenho mais jeito para tratar de problemas de saúde.
Tudo isto acaba por ser irónico: no caminho para cá, hoje de manhã, vinha a pensar que, nas refutações que se fazem no processo de regulação do poder paternal, nunca se fez referência (pela nossa parte) ao facto de a mãe do Arturito nunca ter tido uma atitude que tendesse a proteger os interesses do miudo, mas apenas e exclusivamente os seus. Sexto sentido?... Nada mais a dizer, vou esperar que a minha mãe me telefone a comentar o estado concreto do miudo e depois logo vejo o que farei.

20/01/2004

Ao som de Pink Floyd

Abri o blog quando me lembrei de fazer algo de muito util: limar as unhas. Agora que estão todas arranjadinhas sempre escrevo melhor. Não uso verniz, não me maquilho pela manhã, mas tenho a pancada de que as unhas são para usar um bocadinho grandes e arranjadinhas. Já deixei o trabalho marinar algum tempo, tenho mesmo andado mais preocupada com outras coisas, mas já tratei do que tinha a tratar aqui hoje. O Artur continua a ir trabalhar, pelo menos até dia 22, que ninguém lhe assinou mapa de férias, e, seja como for, também não tem outro sitio para onde ir e lá o acesso à net é gratuito e dá para ele enviar o CV para uma data de sítios.
Esta noite tive um sonho, em que tinha sido promovida dois níveis. Acordei com uma sensação de felicidade enorme, apenas para verificar que eram 5:30 e que estávamos de novo a dormir no sofá os dois.
A mãe do Arturito fez-lhe a festa de anos, num dos sitios mais caros para se fazer festas na Margem Sul. Comprou-lhe roupa, mas esqueceu-se de lhe dar uma prenda. Eu confesso que a nossa, lá de casa, foi comprada numa das belas lojas de chineses, e mesmo assim o Artur ainda disse que tinha sido muito cara... Mas nos anos dos meninos recuso-me a dar-lhes roupa.
Eu sou tão pouco fotogénica, que um doido de um amigo meu, que tem um dos telemóveis com câmara fotográfica, em vez de por uma foto minha na minha identificação, pôs uma foto da Dori, do filme "À procura de Nemo", acompanhada do toque dos Looney Toons... Acho que isto diz muito de mim, não? :)

16/01/2004

Sem vontade

Não tenho tido grande vontade de escrever. Nota-se. Para quem ainda não reparou, a actualização do meu blog é feita no local de trabalho. Agora, mesmo que o queira fazer em casa, não posso - o idiota do pc morreu, vá-se lá perceber porquê! Dado o estado geral das coisas, prefiro sinceramente enfiar a cabeça nos papéis e trabalhar afincada e concentradamente, tirando assim algumas horinhas de folga das tretas que todos os dias me esperam à saida daqui. E não é o dia todo, que os meus neurónios teimam em voltar sistematicamente aos problemas, assim que tiro os olhos de qualquer processo de que esteja a tratar.
Mas hoje é sexta-feira, e tirei o dia para não trabalhar para o patrão mas sim para mim. Fazer aquelas coisas que se adiam constantemente para fins-de-semana, para uma noite em que não tenha um enorme acesso de sono, e que nunca se fazem. Hoje tirei o dia para tratar dos pedidos de indemnização cível nos processos criminais que o meu agregado tem em curso, para escrever a carta a enviar à administração do meu condominio por causa do problema de humidade que se verifica e que a administração teima emn ão tentar solucionar, para fazer a carta com a cópia dos comprovativos dos gastos de saúde e escolares que compete à mãe do Arturito comparticipar em cinquenta por cento, e, por fim, para tratar de enviar à nossa advogada os documentos que ela precisa para defender os nossos interesses da melhor forma.
O Arturito fez anos no dia 13. A mãe não lhe deu prenda. Marcaram a festa para domingo de manhã, e o meu filho não foi convidado ("isso é com a minha mãe", respondeu o miudo). Não me rala, porque vamos para Santarém. E mesmo que não fossemos, também não me ralaria. Para a semana fazemos-lhe a festa da familia e o resto são tretas.
Na quarta-feira fui avaliada pela chefia quanto ao meu desempenho de 2003. Alguém me sabe explicar o que significa realizar "demasiado atempadamente as suas tarefas"? É que, se ainda se dissesse que cometo erros por fazer as coisas depressa, ainda era como justificável, mas eu faço as coisas a tempo e horas e correctamente... Que se lixem. Para o ano veremos. Não farei o meu trabalho de forma diferente, não deixarei os papéis ganharem bolor em cima da secretária apenas para lhes agradar. Aparentemente os meus indices de produtividade são demasiado altos para a média da equipa, e isso não é admissível.
Aqui ficaram as ultimas. Tenham todos um bom fim-de-semana.

12/01/2004

Mais um para a estatistica

Na sexta-feira sentia-me num estado de profundo desespero e ansiedade. Mais uma vez a minha vida estava caótica. Parecia quase tirada do mais psicadélico filme do Tarantino. Nessa noite rebatemos ponto por ponto os relatórios dos Institutos de Reinserção Social relativos à alteração da regulação do poder paternal, que não nos eram muito favoráveis.
Sábado levámos o Pedro a Santarém e voltámos de imediato, para entregarmos à nossa advogada os papéis que lhe permitirão contradizer os referidos relatórios. Continuámos a conversa dos dias anteriores, e a conclusão foi só uma: o Artur enviar hoje a carta de rescisão do contrato de trabalho à empresa que não lhe paga há cinco meses, situação que nos tem levado à loucura, ou quase. Dormi a sesta. Lavei e sequei roupa.
Domingo, a reunião de familia. Angústia, medo e ansiedade ao pequeno-almoço. Afinal tudo se manteve nos níveis de paz podre que nos permite continuar uma relação familiar mais ou menos equilibrada, em que todos sabemos com que contar. Almoço com a familia que ficou para almoçar, lanche ajantarado em casa da minha irmã que não tinha podido estar presente na reunião. Regresso a casa, esgotada. Que se lixe a roupa para passar a ferro.
Hoje o Artur manda a carta. Tenta falar com as patroas sobre o assunto, que refere qual é. Elas mostram indisponibilidade momentanea para o fazer, mas não se coibem de lhe enviar um e-mail cuja interpretação leva a crer que tentam agora justificar que elas é que o deveriam ter despedido.
Se a situação já tem sido má até aqui, não sei como será nos próximos tempos. Mas pelo menos o Artur sente-se menos angustiado, e a saúde dele é mais importante que o resto. O resto resolve-se. Em frente há caminho, vamos andando que em algum lugar encontraremos onde descansar.

09/01/2004

Amanhã é sábado

E depois é domingo. Duas viagens previstas ao Ribatejo. Vocês divirtam-se, que a coisa por este lado não está para grandes alegrias. Mas quero ver se, pelo menos, amanhã consigo ir ao cinema ou, ao menos, dormir uma sestinha...
Bom fim de semana.

08/01/2004

Foda-se

"As entidades patronais advertem que o pagamento atempado de salários, ou aumentos decentes são prejudiciais à saúde"
"O dinheiro não traz felicidade, manda alguém buscá-la, que tem obviamente um qualquer acidente e não regressa, pelo que ter dinheiro prejudica gravemente a paz de espírito das pessoas, criando-lhes falsas expectativas"
"Se o trabalho dá saúde, porque é que as pessoas adoecem frequentemente nos postos de trabalho?"
Estes e outros pensamentos idiotas não páram de me assolar o espirito. Tenho os movimentos tolhidos pela falta de dinheiro e o cérebro enredado em nós que não consigo desfazer. No domingo haverá reunião familiar, e a haver discussão será por causa de mil e trezentos contos. Que não foram pagos há 5 anos, note-se, e que não são para pagar. Dormi pouco mais de duas horas, a terceira noite consecutiva no sofá. A minha mãe está a fazer medicação antidepressiva, tal como eu e o Artur.
Amanhã será um dia melhor.

07/01/2004

Bolinha vermelha no canto superior direito

Eventualmente não conseguirei acabar este post sem utilizar palavreado pouco próprio (como a Espectacológica, sempre que passa a ferro faz ;) ), mas a história que aqui registarei para memória futura não se compadece com outra coisa.
Começo por vos contar o conteúdo da carta que o Arturito escreveu este ano ao Pai Natal. Depois de expressar o seu desejo de que ele se encontrasse bem de saúde, dizia assim (vou poupar-vos aos erros ortográficos):
"Este Natal, aquilo que eu quero é:
1.º Muitas felicidades e muitos brinquedos para os pobrezinhos
2.º Um pião telecomandado
3.º Uma trotinete a gasolina"
Não foi esta a primeira vez que ele demonstrou a sua generosidade e o bom fundo que tem.
No dia de Natal, tal como regulado judicialmente, eu e o Artur fomos buscar o miudo a casa da mãe. Daí passámos por casa da minha mãe, que queria dar um beijo ao menino, e que lhe deu € 20,00, prenda do avô. Eu guardei o dinheiro, apesar dos protestos do miudo, depois de o pai ter dito que era melhor que eu o fizesse, para depois pôr no mealheiro dele.
Chegados a nossa casa, comecei em busca do mealheiro para guardar o dinheiro, enquanto o Artur tomava banho. Corri a casa de ponta a ponta e nada de mealheiro. Perguntei ao pai, que não sabia do dito também. Fomos ambos perguntar ao miudo onde teria ele guardado o mealheiro. Resposta, de cabeça baixa: "Levei-o para casa da mãe. Ela anda sempre a dizer que não tem dinheiro e eu levei para a ajudar". Conhecendo a generosidade do miudo, tivémos de ter tacto na conversa, demonstrar que não estávamos zangados com ele, mas lá perguntámos como tinham aberto o mealheiro (com uma tesoura - o mealheiro era de lata, tinha um fecho eclair com cadeado para fechar) e em que tinha sido gasto o dinheiro. "Então, fomos ao cinema, ao bowling, comprámos um jogo para a Playstation e assim". E sabes quanto dinheiro estava lá?, perguntámos nós ainda estupefactos. "Era € 128,99".
A minha cabeça gritava "cabra de merda", "filha da puta", e outros epítetos equivalentes. Explicámos ao menino que a mãe tinha de lhe devolver o dinheiro porque era dele. Fomos os dois para o quarto. O Artur abriu a boca e disse "Puta de merda, até o filho ela chula." Eu dirigi-me para o telefone umas dez vezes, mas consegui conter o impulso de telefonar à besta e deixar sair tudo o que tinha para lhe dizer.
Como é que se explica a uma criança de oito anos que quem não tem dinheiro para comida não compra um BMW novo? Como é que se lhe explica que não pode ter pena da própria mãe? Eu já não sei...

06/01/2004

Segundo dia de trabalho é duro...

Muito pior que o primeiro. Custa mais a levantar, custa mais a sair de casa, custa mais a olhar para os papéis. Por isso, almocei com a minha tia e aproveitei a tarde para auxiliar no pedido de documentos via net, necessários para a habilitação de herdeiros e outras burocracias irreais pelas quais é obrigatório passar. Parece que o Estado imagina que assim nos vai ajudando a aliviar a dor da perda de alguém querido, transformando essa dor em frustração, irritação e quase desespero por nunca mais estar tudo tratado. Imagino que já todos tenhamos aprendido, realmente, a lidar com a mágoa, quando tudo estiver tratado.
O Artur hoje vai dormir a Barcelona. Informei-me correctamente, e uma das alternativas para suportar melhor a crise económica é a suspensão do contrato de trabalho dele (que dá direito a subsídio de desemprego) até ao pagamento integral da dívida da sociedade perante ele. É que, como ele dizia ontem, ir trabalhar agora é contraproducente, porque se enerva, se descontrola, e ainda por cima gasta dinheiro, em vez de o ganhar.
Os putos andam bem e felizes. Amanhã, se tudo correr bem, conto-vos a nossa história de Natal, uma versão muito portuguesa do Scrooge.

05/01/2004

De volta

O meu avô faleceu às 02h25m do dia 19 de Dezembro de 2003. O funeral foi no dia 20, às 10h.
Passámos todos o Natal na casa dos meus avós. No dia de Natal de manhã os filhos do casal desfeito pela morte discutiram, e separaram-se sem se despedirem uns dos outros.
Passei o resto das férias em casa. Sem vontade de fazer nada, pouco fiz que não fosse indispensável. Eu e o Artur passsámos o ano juntos, em casa, a sós.
Hoje reentrámos na rotina laboral, escolar e familiar. Pode ser que agora eu consiga encontrar a solução que permita que a minha familia não se desmorone por completo. Desta vez, nem a alegria das crianças foi ou é suficiente para apaziguar a tormenta.
Espero que todos vocês tenham tido melhores festas do que eu. Convenhamos, não é difícil...